XXVI Congresso Internacional de Direito Tributário joga luz sobre complexidade do sistema tributário brasileiro

XXVI Congresso Internacional de Direito Tributário joga luz sobre complexidade do sistema tributário brasileiro

 Em três dias de amplos debates sobre temas tributários atuais, Congresso reuniu ministros, desembargadores e os mais renomados advogados da área

O XXVI Congresso Internacional de Direito Tributário da Abradt promoveu importantes e intensos debates sobre temas de grande relevância jurídica e fiscal para o País. Promovido pela Associação Brasileira de Direito Tributário (Abradt), o evento aconteceu de quarta-feira (16/10) a sexta-feira (18/10) no hotel Mercure Lourdes, em Belo Horizonte, e reuniu centenas de participantes.

Nos três dias de evento, foram tratados temas caros ao Direito Tributário no Brasil e no mundo, com destaque para a Reforma Tributária e seus impactos; a aplicação da inteligência artificial na judicialização; a litigiosidade, segurança jurídica e os desafios e tendências do sistema tributário brasileiro.

Com auditórios cheios e a participação de advogados, contadores e empresários, a 26ª edição do Congresso consolidou discussões fundamentais para o presente e o futuro do Direito Tributário no Brasil. Confira um pouco mais sobre o que aconteceu em cada dia do evento:

Abertura e primeiro dia de evento

O primeiro dia do XXVI Congresso Internacional de Direito Tributário teve conferências na parte da manhã, nove painéis e cinco oficinas.

O evento começou com tributo ao jurista Frederick Schauer, que faleceu no mês de setembro. A presidente da Abradt, Misabel Derzi, falou sobre seu legado durante a conferência “A força do direito: um tributo a Frederick Schauer”. “O direito não funciona sem regras. O abandona da regra, apesar da generalização inerente a ela, leva a erros muito mais graves, e profundos desacertos. Schauer sempre preferiu tomar as decisões no direito pelo sistema das regras”, destacou.

A inteligência artificial e seus impactos na área também estiveram na pauta do primeiro dia de Congresso. Em painel que teve como tema “A inteligência artificial nas decisões judiciais”, a procuradora da Fazenda Nacional Lana Borges comentou sobre a utilização da IA pelas procuradorias à luz da dê judicialização. “Queremos a redução da litigiosidade. Para se ter ideia, em 2023, mais de 2,5 milhões de intimações chegaram à Fazenda Nacional. Precisamos do apoio da inteligência artificial para potencializar nossa eficiência. Ela deve servir como um catalisador da nossa atuação”, disse.

Durante a tarde, os debates perpassaram a tributação sobre a renda da pessoa física e da pessoa jurídica, tributação sobre a renda e as propostas de reforma, e tributação sobre as remessas ao exterior, além de outros temas contemporâneos do Direito Tributário, como planejamento sucessório.

Homenagem à Marie-Christine Esclassan

O segundo dia do evento foi marcado por homenagem à professora Marie-Christine Esclassan, em conferência com a participação do professor Michel Bouvier, da Universidade de Paris I Panthéon-Sorbonne. Bouvier destacou a complexidade das questões econômicas e jurídicas envolvidas na aceitação do imposto, tema que ganha relevância diante do cenário atual.

“Os desafios a serem vencidos na sociedade contemporânea são múltiplos, e necessitam de muitos meios materiais e humanos que pesam e vão pesar cada vez mais sobre os gastos públicos. O imposto bastará? E sobretudo, ele é percebido como legítimo? Existe um movimento de desconstrução do modelo de consentimento do imposto”, pontuou o professor.

Durante o dia, foram tema de debates a segurança jurídica e os riscos fiscais relacionados à transição da EC 132/23 e à não-cumulatividade, litigiosidade, precedentes, incentivos fiscais, entre outros importantes temas. No final do dia, foi realizado talk-show sobre a Reforma Tributária e segurança jurídica, além de mesa de debates sobre “Os desafios e o futuro do CARF”.

Presença de ministros e encerramento

O último dia do XXVI Congresso Internacional de Direito Tributário consolidou o sucesso do evento, com recorde de ministros presentes.

No começo da manhã, conferência intitulada “Supremo Tribunal Federal: Atualidades” contou com presença dos Ministros Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia. Em fala bastante aplaudida, Barroso abordou a importância da democracia constitucional e da segurança jurídica. “Mais de 10% do acervo total do supremo é de questões tributárias. É uma área em que existe imensa litigiosidade. Não existem soluções prontas para todos os problemas de uma sociedade complexa como a nossa, e uma das maneiras de enfrentarmos a insegurança e a incerteza é com a valorização dos precedentes. Toda a comunidade jurídica brasileira está aprendendo a trabalhar com precedentes, o que eu considero extremamente positivo, porque o precedente bem trabalhado traz três valores importantes: segurança jurídica, igualdade e eficiência”, ressaltou.

A Ministra Cármen Lúcia refletiu sobre o princípio da igualdade tributária. “É preciso que a gente dê ao princípio da igualdade a efetividade necessária para que tenhamos no Brasil o respeito à capacidade econômica do contribuinte, e que não é a capacidade financeira. O Supremo tem tentado julgar no sentido de igualar, para que o princípio não seja só um enunciado, mas uma marca, um vetor”, defendeu. “O momento não é mais de igualdade na lei, mas pela lei. A sociedade ainda é devedora àqueles que foram sempre os que menos tiveram, mas têm a possibilidade de muito contribuir”, acrescentou.

Na sequência, a conferência “Precedente: Estado de Direito e a reforma do processo tributário” reuniu os Ministros do STJ Regina Helena Costa, João Otávio de Noronha e Reynaldo Soares da Fonseca. A Ministra Regina Helena Costa comentou sobre o possível aumento da litigiosidade pós Reforma Tributária. “Precisamos mais do que nunca atualizar nosso sistema de resolução de conflitos tributários s mecanismos de resolução de conflitos “, disse. Já o Ministro Reynaldo Soares da Fonseca abordou o sistema de precedentes. “O Direito Tributário é o campo adequado para a adoção de mecanismos de precedentes. A fixação de precedentes gera previsibilidade e segurança jurídica”, pontuou. Por fim, o Ministro João Otávio de Noronha falou sobre o financiamento de litígios. “Hoje se consegue financiamento de litígio com o propósito de possibilitar um efetivo acesso à justiça. Mais do que isso: ele estabelece uma paridade”.

Para encerrar o evento, a Abradt realizou conferência magna em homenagem ao Ministro André Mendonça, com participação do homenageado, que falou sobre o tema “Estado de Direito: proteção da confiança, precedentes e igualdade”. “O Brasil é um país que tem que prestar serviços públicos, em condições muito específicas, porque é tem dimensões continentais, é desigual e tem grandes diferenças regionais. E esses serviços públicos precisam contar com políticas públicas e com uma atividade regulatória estatal que não é só complexa, como também é desigual”, enfatizou o Ministro.

“Não precisamos nem ter um Estado grande nem um Estado mínimo. É preciso ter um Estado eficiente, que preste os serviços com o menor ônus possível e na maior dimensão para que a sociedade seja bem atendida. Só que nós temos fracassado nisso”, concluiu.

Após a conferência magna, foi entregue placa de Presidente Honorário para Valter de Souza Lobato. “Por unanimidade, os diretores da Associação concedem ao dr. Valter o título de Presidente honorário, pela prestação de serviços inestimáveis e sua atuação notável. Deveria ser presidente honorário e emérito”, destacou a presidente da Abradt, Misabel Derzi.

Concurso de teses e lançamento de livros

Além dos painéis, conferências e mesas de debate, outros momentos especiais tiveram parte no XXVII Congresso Internacional de Direito Tributário da Abradt. No primeiro dia do Congresso, foi realizado coquetel e lançamento de quatro livros: “Estudos e Reflexões sobre a Reforma Tributária”, organizado por Gustavo Lanna Murici, Maria Raphaela Dadona Mathiesen e Valter de Souza Lobato;  “O Papel da Lei Complementar Tributária do Desenho Federativo Brasileiro”, com coordenação de Valter de Souza Lobato e  organização de José Antonino Marinho Neto; “A Legitimidade Financeira do Controle de Incentivos Fiscais”, de autoria de Gustavo Lanna Murici; e “Direito Aduaneiro Tributário”, de autoria de Pedro Henrique Alves Mineiro.

No encerramento do Congresso, nesta sexta-feira (18/10), foi realizada a divulgação e premiação do Concurso de Teses – Prêmio Sacha Calmon 2024. O concurso contou com pesquisas de alta qualidade e é oportunidade de desenvolvimento científico. Os vencedores foram:

1º Lugar: Sávio Jorge Costa Hubaide – “Limitação das multas tributárias ao valor do tributo: estudo sobre a formação dessa jurisprudência no STF e seus reflexos.”

2º Lugar: Gabriel Almeida Viana – “Mitos e Reforma: Entre a proteção da confiança e a indeterminação.”

3º Lugar: Nacle Safar Aziz Antônio; Thales Augusto Braga Silva Gurgel; e Giovanna Rodrigues de Assis – “A influência de critérios econômicos na tomada de decisão jurisdicional tributária como risco à confiança dos contribuintes: uma releitura de precedentes do STF à luz da teoria dos sistemas de Niklas Luhmann e da doutrina Misabel Derzi.”

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